Se faz algum tempo que não nos falamos, preciso me apresentar novamente pois você não me conhece mais.
Eu mudei e estou constantemente mudando. Mudo de opinião, mudo de gostos, mudo de desejos, mudo de planos, mudo de crenças e convicções. Possivelmente sou hoje uma pessoa totalmente diferente da que você conheceu.
Eu já defendi o Maluf, já achei que ter cachorro dentro de casa era nojento e que viajar era coisa de desocupado. Já discordei do médico que atribuía todas as minhas doenças ao meu peso, até eu emagrecer e ver que ele tinha razão. Assim como percebi que a política é complexa, mas nunca podemos nos acostumar com “rouba mas faz”. Um dia comprei um Shitzu (o Jack) que só vive dentro de casa. E viajar? Bom, depois que comecei não quero mais parar – e sim, sou uma pessoa muito ocupada.
Eu já acreditei em muita coisa que hoje não acredito mais. Abandonei hábitos ruins e bons e adquiri muitos novos. Mudei de planos diversas vezes no meio do caminho. Superei diversos conceitos e preconceitos. Achei estar totalmente convencido de algo e depois mudei vertiginosamente de opinião.
Talvez você se lembre de mim de cabelo comprido, vestindo preto e curtindo rock. Ou de terno cantando na igreja. Talvez você se lembre de mim com 70kg jogando basquete ou com 130kg comendo 2 pizzas inteiras. Talvez você se lembre de mim de cavanhaque, de barbicha, de barba ou sem barba.
Coisas que discordei de você ontem, possivelmente hoje eu concordo. Coisas que você admirava e elogiava em mim ontem, hoje talvez você não se encantaria tanto.
Não sei como você se lembra de mim, mas posso te garantir: Não sou mais nada disto.
De todas as mudanças que eu já fiz na minha vida a mais importante foi decidir que eu não precisaria me ater às minhas antigas opiniões e convicções. Que eu não precisaria ficar buscando justificativas que nem mais me convenciam só para eu não mudar de opinião.
Eu mudei, e a principal mudança na minha vida foi decidir que eu posso mudar, que eu posso voltar atrás, que eu posso dizer e desdizer qualquer coisa sem me preocupar em defender até a morte algo que um dia eu falei e hoje não concordo mais.
Alguns podem achar que isto é sinal de fraqueza ou de insegurança, e um dia eu também achei isto, mas mudei de opinião. Hoje vejo que sustentar uma opinião que nem mesmo te convence, é ser fraco. E que ter medo de voltar atrás por algo dito, é insegurança.
Mudar de opinião é sinal de maturidade de alguém que entende suas limitações, que não se compreende como dono de todas as verdades. Que está disposto a aprender, se corrigir e melhorar a cada dia. Que não se prende a determinações impostas por alguém ou por ele mesmo, mas que sim, tem liberdade para pensar, agir e viver. Sem culpa, sem pressões e sem medo da opinião alheia.
Ah a opinião alheia… Ela pode ser devastadora. Aprendi que opinião alheia não é um uníssono, e que tentar balizar minha vida pelo que pensam ou deixam de pensar, gostam ou deixam de gostar, é viver uma novela que cada capítulo é escrito baseado na audiência, e minha vida não é uma novela. Pessoas opinam sobre minha vida como opinam sobre o final de Lost, dizendo gostar ou não, se decepcionar ou não. Bom, eu adorei o final de Lost, mas a maioria odiou.
Não mudo em tudo, mas nada é imutável para mim, e nada me impede de mudar. Nem os outros, nem eu mesmo. Pois mudar é necessário para continuar vivendo.
Assim como uma serpente troca sua pele, nós também precisamos eventualmente abandonar aquilo que éramos e hoje não somos mais, para recomeçarmos mais vistosos e revigorados.
No presente, a mente, o corpo é diferente. E o passado é uma roupa que não nos serve mais. Por isto que eu prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
E se você não gosta de Belchior e Raul, pode ficar com esta: “O sábio pode mudar de opinião. O ignorante, nunca.” ― Immanuel Kant .
Ou, pode aprender a gostar de Raul e Belchior. Você pode se surpreender.