Mary King´s Close (Edimburgo – Escócia) – Procurando Culpados

Instagram
Compartilhar no Whatsapp


Quando visitei Edimburgo, na Escócia, não pude deixar de conhecer o Mary King´s Close (Beco de Mary King) e ouvir suas lendas e histórias intrigantes sobre a Peste Negra.

Ouvi histórias dos moradores de becos de Edimburgo, como o Beco de Mary King, que foi fechado com blocos deixando as pessoas trancadas nele em “quarentena”, isoladas para morrerem e não propagarem a doença. Histórias de assombrações, como o espírito da pequena Annie que morreu durante a Peste Negra e que até hoje procura sua boneca pelo beco (e muitas pessoas deixam bonecas de presente para ela), e a história dos incríveis médicos da peste que usavam uma máscara que lembra uma ave.

Bonecas deixadas para Annie – A garotinha fantasma que, segundo a lenda, continua a procurar sua boneca

Como infelizmente não é permitido fotografar o Mary King´s Close – e eu surpreendentemente respeitei esta regra – as fotos que irei colocar aqui são fotos que peguei da internet. A foto principal do post é da Royal Mile, de onde tem saída para diversos becos, inclusive o Beco de Mary King.

A Peste

A Peste Negra foi certamente uma das páginas mais terríveis da nossa história. Por conta dela, cerca de 1/3 da população da Europa morreu de forma dramática e dolorosa. O auge da epidemia ocorreu entre 1346 e 1353 atingindo praticamente toda a Europa e, em alguns lugares, como Portugal, dizimou metade da população.

Bonecos em Mary King´s Close ilustrando os efeitos da peste

Quando a pessoa era infectada, surgiam bulbões (por esta razão ela também é chamada de Peste Bubônica), em geral nas axilas e na virilha, que em poucos dias ficava preto e chegava a estourar. Algo realmente de assustar qualquer pessoa. Após a infecção, a pessoa não tinha sequer uma semana de vida, morrendo normalmente entre 3 e 5 dias.

Os Incumbidos da Culpa

A peste foi tão avassaladora que deixou toda a Europa em pânico. Ninguém conseguia entender o que estava acontecendo e, por conta disto, diversas teorias surgiram.

A primeira, e mais difundida, era de que a peste se tratava de uma “lição” que Deus estava dando na população por conta de seus pecados. No entanto, esta teoria começou a ruir quando perceberam que inclusive padres e clérigos em geral também se infectaram, o que fez com que procurassem outro culpado.

Ilustração de Judeus sendo queimados

Começaram então a culpar os estrangeiros (o que não estava de tudo errado), porém, resolveram focar nos judeus, acreditando que se tratava de uma praga que eles teriam jogado contra os cristãos. O resultado foi um massacre contra os judeus, queimando vários deles vivos em fogueiras pela Europa.

Médicos da Peste com seu bico de ave

Apenas muitos anos depois é que foram descobrir que a Peste Negra veio de ratos de embarcações mercantes da Ásia, em especial da China, e que estes carregavam pulgas que eram as verdadeiras transmissoras da doença. No estado mais grave da epidemia, a peste também passou a ser transmitida pelo ar. Os médicos da peste, acreditando que a doença era transmitida pelo mal cheiro, utilizavam uma máscara semelhante a um bico de pássaro onde colocavam aromas fortes e palha para funcionar como filtro, o que fazia com que eles não sentissem nenhum odor. Embora eles estivessem equivocados, a técnica deles de fato ajudou muito a não serem contagiados uma vez que aquele bico conseguia ter uma função, mesmo que não muito efetiva, de bloquear o ar direto e impedir que fossem infectados.

Os Verdadeiros Culpados

A Europa medieval não era nada higiênica. Além dos europeus não terem o hábito de tomarem banho ou trocarem de roupas, eles tinham o terrível hábito de fazer suas necessidades em baldes e simplesmente jogarem porta afora, ou pela janela, escorrendo pelos becos onde as pessoas andavam.

Foto do Beco de Mary King restaurado. Este caminho ficava repleto de fezes e dejetos humanos que eram jogados pelas portas e janelas.

O Beco de Mary King chegou a ter até 7 andares de residências. Cada residência era basicamente 1 cômodo onde viviam até 16 pessoas num espaço minúsculo. Quem morava nos andares mais altos eram menos pobres dos que os que moravam nos andares mais baixos, e todos eles despejavam suas necessidades na estreita viela que dava acesso às casas dos mais pobres que, naturalmente, eram os que mais sofriam com a doença.

O rato negro que veio da Ásia – que carregava a pulga transmissora da peste – diferente do rato cinza que conhecemos, não tinha medo de humanos e vivia tranquilamente entre as pessoas. Além disto, neste ambiente de total imundice, encontrou o lugar ideal para viver, procriar e se proliferar.

Pequenos hábitos de higiene seriam o suficiente para evitar que a doença se espalhasse com tamanha velocidade e acabando com a vida de milhões de pessoas pela peste, além das que morreram por terem sido acusadas de responsáveis pela doença.

O conhecimento farmacológico do europeu era muito limitado, uma vez que a igreja acusava de bruxaria quem tentasse pesquisar ou desenvolver curas. Além disto, ele ainda não tinha conhecimento suficiente para determinar uma relação entre seus hábitos precários de higiene e o desenvolvimento de doenças.

Este cenário de completa ignorância e cegueira religiosa fez com que o europeu procurasse por culpados no sobrenatural – Deus e Diabo – ou em outras pessoas – Judeus – enquanto na verdade, o único culpado por todo o sofrimento que ele passava, era ele mesmo.

 

 

Compartilhar:

Comentários

comentarios

Instagram


Instagram