Há três anos eu pesava 130kg e não era feliz. Nenhuma propaganda, post ou campanha que dissesse que eu deveria ser feliz como eu era me convencia.
Não tem como ser feliz sabendo que sua pressão está 16×10 em repouso ou que seu triglicérides está em 400 enquanto o limite é 150. Não tem como ser feliz sem conseguir se debruçar para amarrar o cadarço ou ver as pernas da banqueta que você se sentou arriarem. Não há felicidade em tomar sete remédios por dia e estar no limite de uma diabetes.
Não tem como ser feliz suando no inverno ou ficar ofegante ao subir uma escada de 10 degraus. Não tem como ser feliz sentindo dores na coluna, nos joelhos ou ter refluxos a noite. Não conseguir passar em determinados lugares (como uma catraca por exemplo), ou não conseguir descer a mesinha para comer no avião. Não tem como ser feliz assim.
Eu tinha raiva de mim ao entrar em uma loja e ver que nenhuma roupa ficava bem em mim. Por vezes culpei a loja, os estilistas, os padrões de roupas e a sociedade. Mas a verdade é que quem comeu muito fui eu e não eles.
Gordofobia é sim construção social e o que eu puder fazer para lutar contra este preconceito irei fazer. Fui vítima de muitas piadas e comentários maldosos. Senti na pele o que é tomar um sorvete e notar que as pessoas olhavam para mim com total ar de reprovação. Ou sempre ter de explicar porque eu comia pizza com Coca-cola zero. Levar tapinhas na barriga então, era quase que o novo tipo de cumprimento.
Pessoas discriminam os gordos e eu acho válida toda luta para que este tipo de discriminação acabe. Mas sejamos francos, isto não deve acabar tão logo. Possivelmente veremos algumas gerações ainda lutando contra isto. Eu não estava disposto a esperar uma nova sociedade livre da gordofobia para ser feliz, até porque, não era só a questão social que me incomodava. Era eu comigo mesmo.
Há cerca de dois anos eu perdi 45kg e hoje tenho uma vida totalmente diferente. As roupas servem bem, eu me sinto mais disposto, minha saúde está ótima. Recentemente corri 10km e senti muito orgulhoso de mim. Tenho feito trilhas, subido montanhas e até um vulcão ativo. Uma experiência que jamais eu teria na minha vida com o peso que eu tinha antes.
As vezes vejo pessoas muito acima do peso que postam alguma foto com um discurso de orgulho de seus corpos e vejo nos comentários pessoas elogiando dizendo que estão lindas e maravilhosas. Eu acho a atitude de ambas louvável, linda e cheia de boas intenções, mas não me parece a melhor solução. É muita boa intenção, mas não sinto que quem posta está de fato feliz, pois como expliquei acima, não tem como estar feliz muito acima do peso. E quem elogia, também cheia de boas intenções, não acredito que esteja sendo totalmente sincera, pois fala aquilo que a pessoa quer ouvir, mas não creio que seja o que realmente pensa.
Eu agradeço aos meus amigos e familiares que foram sinceros. Sem bullyng, sem ofensas, sem brincadeiras maldosas ou discriminatórias, sem piadinhas ou indiretas. Amigos que realmente queriam o meu bem souberam escolher as palavras certas, o momento certo e mostraram que eu poderia sim estar melhor comigo mesmo e ser mais feliz se eu emagrecesse. E eles estavam certos.
Não emagreci por questão social. Emagreci para viver mais, para viver melhor, para me amar e ser feliz. Não troco as montanhas que trilhei, as roupas que me caem bem, os quilómetros que corri ou o vulcão que eu subi. Não troco nada disto por tentar ser feliz gordo e ter um infarto antes dos quarenta.
Vai por mim, não vale a pena. Palavra de ex-gordo.