Minha infância foi nos anos 80, meus brinquedos, programas de TV, Xuxa e afins marcaram muito minha infância. Mas minha adolescência e início da juventude foi nos anos 90. Ano este em que uma tal de internet estava surgindo e, quem poderia imaginar, iria mudar tanto o nosso jeito de ser.
Acho que hoje ninguém mais sabe o que é aquela sensação de você pegar o telefone de uma pessoa, ligar para a casa dela e o pai dela atender! E você começar a gaguejar “A Fulana tá aí?” com medo de ele responder “O que você quer com a minha filha?”. Ou então de receber uma ligação no telefone do trabalho, com seu amigo dizendo “E aí meu, blz? O que manda de novo?”. Puxando um papo que poderia durar um bom tempo. Fico me perguntando: As pessoas sabem hoje bater papo por telefone? Será que o Whatsapp substituiu isto a altura?
Lembro de trocar cartas com minha namorada. Ela ainda era super criativa, fazia o envelope da carta com páginas de revista. Eu achava o máximo. Lembro que quando tinha uns 14 anos conheci uma menina num acampamento, ela era do Chile, e uns dias depois chegou uma cartinha dela, toda cheirosa, cheia de beijinhos, escrita a mão. Será que o e-mail substituiu isto a altura?
E quando tinha de fazer algum trabalho da escola? Íamos para a biblioteca em turma fuçar livros e mais livros. Tentávamos rir baixo mas sempre alguém soltava um “shhiiuuuuu”. Tínhamos muitas vezes de ler quase um livro inteiro só para encontrar um trecho que trazia a informação que a gente queria. Por incrível que pareça, biblioteca não tem busca por palavra-chave…rs. No livro, ainda tinha no final a lista de outras pessoas que já pegaram o mesmo livro, e as vezes você encontrava o nome de alguém conhecido, e era um ótimo pretexto para puxar um papo. Será que o Wikipédia substituiu isto a altura?
As vezes do nada você se lembrava de um amigo que não falava a algum tempo. Batia até aquela preocupação “Puxa, como será que está fulano? Será que casou? Tem filhos?” e então você achava um telefone antigo na agenda, ligava e então começava aquele papo surpresa, super animado. Era uma ligação emocionante. Hoje, parece que ninguém mais se preocupa com o outro, não por desprezo, mas porque não tem o que perguntar, já que está tudo muito bem relatado na sua timeline. Se você quer saber como está fulano, entra no seu perfil, lê, se atualiza, e nem sequer manda um inbox. Sem contar a lembrança de aniversário. Hoje quando alguém me dá parabéns eu fico pensando: Lembrou sozinho ou o Face deu uma força? Parece que quando as pessoas lembravam por elas mesmas tinha um gosto especial. Será que o Facebook substituiu isto a altura?
Não quero ser saudosista, daquele chato que tudo antigo era melhor. Hoje, por exemplo, num papo entre amigos, resolvemos aquela charada do “Quem canta aquela música mesmo?” em 5 segundos com o Google. Ou reencontrar amigos do tempo de colégio no Facebook que possivelmente nunca mais iríamos ver. Ou poder trocar imagens e vídeos engraçados pelo whatsapp com diversos amigos ao mesmo tempo e render boas conversas, sem contar os grupos de amigos.
Hoje citamos o Orkut como se fosse uma máquina de escrever. Isto mostra que tecnologias vem, trazem novas maneiras de interagirmos, ficam obsoletas e se vão. E no meio destas mudanças frenéticas, o que permanece intacto e não se torna obsoleto jamais, são as pessoas.
Com suas alegrias, tristezas, saudades e esperanças, elas podem usar uma carta, um e-mail, um whatsapp ou sabe-se lá o que irão usar no futuro, mas terão sempre uma maneira de dizer umas para as outras: “Oi, e aí? O que manda de novo?”
Post original no Facebook, comentários apenas lá