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Daí você trocou a foto do perfil apoiando a campanha pelo Fim da Cultura do Estupro. Mas você curte um funk, ou pior, afirma e defende que o funk é uma expressão popular a ser respeitada e que o “funk é cultura”.
Bom, eu não concordava, mas me fizeram mudar de opinião: O funk é expressão cultural sim. Da cultura do estupro!
E antes que digam que estou querendo justificar o estupro, adianto: Não estou questionando o estupro. Estupro é inquestionável e injustificável. A vítima NUNCA tem culpa. Estou questionando a coerência em se defender uma campanha pelo fim da Cultura do Estupro e apoiar ao mesmo tempo algo que explicitamente faz apologia ao estupro.
Afinal, o que define melhor a Cultura do Estupro do que a objetificação da mulher?
E objetificar a mulher é tratá-la como uma boneca inflável, como uma pizza a ser comida e repartida, como algo a ser usado e descartado, como algo que tem apenas a função de satisfazer as suas vontades independente da dela.
E qual “ritmo musical” faz mais por esta cultura do que o funk? Com aquelas letras podres que quando alguém passa ouvindo na rua você corre tampar o ouvido da criança mais próxima.
As letras, a dança, o ambiente que se cria em volta destas músicas objetificam a mulher, tornam o sexo algo sujo, que deve ser praticado de forma desenfreada, em grupo, com violência, sem respeitar ninguém. E se isto não incita o estupro, a cultura do estupro, então não consigo imaginar nada que o faça.
E o pior: tem sido o ritmo preferido dos pre-adolescentes e adolescentes e principalmente nas comunidades mais carentes, onde o acesso a informação e orientação sexual adequada são escassos.
Existem exceções, ok. Mas estou falando da maioria, daqueles que eu ouço toda madrugada passando na frente da minha casa. Daqueles que ouço parado no trânsito ou do celular pendurado no pescoço de alguém no metrô.
Aliás, percebe o orgulho que tem o funkeiro? Como ele se sente o macho alfa, o pegador, o comedor. Percebe como ele faz questão de tornar isto público?
Percebe como se cria num indivíduo, que desde sua pre-adolescencia esteve exposto a este tipo de influência, uma visão deturpada do que é a mulher? Do que é sexo? Do que é consentimento? Percebe onde se cria a cultura do estupro?
O funk não é o único. E não é só na música que a cultura do estupro pode ser disseminada. A cultura do estupro existe muito antes do funk, mas ele é um dos principais meios atuais de disseminação desta cultura. E por isto devemos falar sobre ele. Por isto que citei ele. Pois tenho visto muitas pessoas aderirem a campanha pelo fim da Cultura do Estupro, mas curtirem um funk. E isto é uma completa incoerência.
Suas atitudes reais estão alinhadas com as campanhas virtuais que você defende?
Vamos falar sobre o fim da Cultura do Estupro, sim. Concordo, defendo. Mas façamos isto com coerência.
Vamos chamar a sociedade, homens e mulheres, todos a discutirem o que cria uma cultura de estupro e o que podemos fazer de prático para mudar este cenário.
Vamos defender, virtualmente e presencialmente aquilo que consideramos aceitável para nossa sociedade, aquilo que queremos para nós, para sua mãe, sua irmã, seus filhos e seus sobrinhos.
O que de prático você tem feito, fora do Facebook, para acabar com a cultura do estupro? Ou no minimo para se posicionar quanto ao que você aprova ou não?
Mudar a foto do perfil é um passo, mas parar nisto é infrutífero. E se ainda não for coerente com suas atitudes, é demagogia.
Ajude a disseminar aquilo que está alinhado aos seus valores. Compartilhe aquilo que você acredita e pratica. Debata estes temas fora do ambiente virtual.
Assim você estará ajudando a construir uma sociedade onde a mulher é respeitada e onde o estuprador não tem vez.
No vídeo, um exemplo de como o funk colabora com a cultura do estupro.
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