EU FUI PRÁ CUBA, e neste artigo apresento 150 coisas que aprendi sobre Cuba falando diretamente com cubanos. Me hospedei em casa de cubanos, conversei com eles nas ruas e trago fotos, vídeos e algumas gravações de conversas.
Quer conhecer Cuba pelos cubanos? Então venha.
0 – Mais do que turistar pela ilha, conhecer suas belezas naturais e pontos históricos, eu buscava respostas para muitas perguntas sobre alimentação, saúde, educação, governo, embargo, moradores de rua etc. Todas as respostas que obtive estão aqui, narradas como me contaram.
Internet em Cuba
1 – Eu já comecei a aprender sobre Cuba com os cubanos ainda no Brasil. Como eu resolvi fazer tudo por conta própria, sem agência ou intermediários, eu precisei encontrar uma casa de cubanos para me hospedar. O contato levou algumas semanas e se deu todo por… Whatsapp!
2 – Sim, os cubanos têm acesso à internet livre, sem VPN. Eles podem acessar o Google, Youtube, TikTok, Whatsapp, Twitter e Instagram. Tudo liberado, mas não é gratuito e as pessoas não têm internet em casa. Para acessar internet elas vão até praças de Wifi estatal.
3 – Nestas praças os cubanos encontram o sinal de Wifi disponível, mas precisam de um cartão pré-pago de horas de conexão. Neste cartão tem um login e senha utilizado para logar no wifi e usar a internet. Ele poderá pausar e poupar horas contratadas para usar depois.
Cubanos e o Dólar
4 – No aeroporto aqui no Brasil eu comprei o Visto de Turista. Você pode ir até o consulado para pedir um visto ou comprar o Visto de Turista que vale por 30 dias direto com a Companhia Aérea. Custou 20 dólares americanos que paguei com cartão de crédito.
5 – A imigração foi tranquila e ao sair do aeroporto fui trocar euro por Peso Cubano. Ao chegar na casa de câmbio estatal, o segurança me ofereceu trocar direto com ele por uma cotação melhor. Eu desconfiei e não aceitei, ele não insistiu. Em poucas horas tudo faria sentido…
6 – Ao pegar o táxi, o preço tabelado era em dólar. Eu falei que tinha pesos cubanos, ele não gostou, mas aceitou. Comecei a sentir que os cubanos usavam dólares para tudo, não como valor de referência, mas a moeda mesmo. Estava estranho, até eu chegar na casa da família cubana.
7 – Lá fui muito bem recebido numa casa simples mas bem equipada. O dono da casa se prontificou a andar comigo até a área central. Eu não queria ficar numa casa na parte turística, por isso tínhamos uma boa caminhada pela frente. E ali já tive minha 1a. conversa com um cubano.
8 – Os cubanos podem receber turistas em suas casas, mas precisam de uma autorização do governo para isso. A diária costuma ser muito barata, algo como 10 dólares por pessoa por dia. O café da manhã custa mais 5 dólares e é satisfatório.
9 – No caminho para Havana Vieja, principal área turística de Havana, já fiz a 1a. pergunta: é seguro andar por aqui sozinho à noite? Ele me respondeu que sim, mas que eu não deveria deixar a câmera à vista nem usar roupas que ostentasse. Perguntei sobre a minha roupa, estava ok.
10 – Ele ia apontando para prédios que um dia foram lindos mas hoje estão totalmente deteriorados. Alguns, em melhor estado, funcionam para o que foram projetados, como o Teatro América, que recebe alguns shows de músicos cubanos
11 – A partir deste momento tomarei o cuidado de não vincular pessoas e falas e irei desfocar pessoas, mesmo em comentários não comprometedores. Um cubano me contou que um amigo foi repreendido porque deu depoimentos no Youtube. Pode ser exagero meu, mas não quero prejudicar ninguém.
Cuba é segura?
12 – Com um cubano que conheci nas ruas de Havana, quando falávamos sobre a segurança para o turista, rolou o seguinte diálogo:
Ele: você vê muita polícia por aqui?
Eu: não
Ele: então por que Havana é tão segura para o turista?
Eu: não sei
Ele: Porque a polícia está aqui à paisana!
13 – Ele continuou: agora há pouco estávamos conversando na rua ali atrás e um táxi côco parou ao nosso lado e o motorista ficou nos observando. A polícia está aqui o tempo todo e nós sabemos reconhecê-los. Eles querem monitorar como nós cubanos interagimos com os turistas.
14 – O governo se preocupa tanto com cubanos falando mal do governo para turistas como reclamando do governo entre eles. Um prestador de serviço de um hostel particular comentou que pessoas comuns também são informantes do governo.
Eles se sentem o tempo todo vigiados.
15 – Eu apontei para uma praça e perguntei: se você fosse ali agora e começasse a criticar o governo, em voz alta, o que poderia acontecer com você? Ele me disse: eu jamais faria isso porque certamente ali teriam policiais à paisana e eu já sairia dali preso.
Alimentação em Cuba
16 – Uma coisa que eu estava achando interessante neste meu primeiro dia de caminhada eram as filas. Tinha fila para tudo, em pequenos comércios totalmente deteriorados, até em lojas com produtos de marca e ar-condicionado. Dentro das lojas, há sempre pouquíssimas pessoas.
17 – Pelas ruas, cubanos o tempo todo me abordando para trocar Peso Cubano por dólares, alguns até com um ar meio de desespero. Um comportamento que começou desde o aeroporto e que iria continuar até o meu último dia de viagem: cubanos loucos por dólares.
18 – Chegando perto de uma destas lojas mais bonitas, percebi que havia uma placa dizendo que ali todos os preços estavam em dólar e que só poderia entrar quem tivesse um cartão de crédito. Tudo começou a fazer sentido, mas eu queria entender que lojas eram estas.
19 – Andando por lá conheci um ex-professor de História que fazia uns bicos de guia particular. Foi um presente conhecê-lo. Com ótimo portunhol, me ensinou muita coisa sobre Cuba, sua história e sua realidade. Aliás, ele foi professor contra sua própria vontade. Veja o vídeo.
20 – Ainda intrigado com as lojas que só aceitavam cartão de crédito e com preços em dólar, perguntei para ele do que se tratavam: são lojas estatais, me disse ele. E eu perguntei: mas como assim loja estatal que não aceita Peso Cubano? E ele me explicou tudo.
21 – Antes da pandemia existiam duas moedas: a moeda nacional (CUP – Peso Cubano) e a moeda para estrangeiros (CUC – Peso conversível). A moeda estrangeira era a utilizada para trazer dólares e euros para o governo, com os turistas gastando em estabelecimentos do próprio governo.
22 – Na pandemia, Cuba se fechou totalmente para o turismo e o governo ficou sem entrada de dólares e euros, fazendo com que precisasse buscar uma nova alternativa para obter estes recursos. A fome, que sempre fez parte do cotidiano do cubano, foi devastadora nesta época.
23 – A segunda grande fonte de moeda estrangeira dos cubanos são os próprios cubanos que vivem no exterior e enviam dinheiro para seus familiares poderem comprar algo para comer no mercado negro. E foi aí que o governo encontrou uma solução para conseguir dólares e euros.
24 – O governo cubano resolveu acabar com o CUC e abrir mercados e lojas estatais que só aceitam pagamento via cartão de crédito. Desta maneira, os familiares de cubanos carregam os cartões via MLC (Moeda Livremente Conversível) que usa como paridade o dólar.
25 – O cubano que tem um cartão de crédito vai nestas lojas e compra algo para comer, pode comprar um chip de celular entre outras coisas que são comercializadas apenas nestas lojas de “elite”.
E como fica o cubano que não tem um parente no exterior nem cartão de crédito?
26 – Este vai precisar achar alguma maneira de conseguir dólares com turistas e pedir para alguém que tem cartão de crédito comprar algo para ele nestas lojas, o que explica um pouco a “muvuca” de pessoas fora destas lojas.
E o cidadão que não consegue dólar, vive como?
27 – Este, que é a maioria dos cubanos, dependerá 100% do estado via um humilhante cartão de alimentação. Este cartão funciona como uma cesta básica “gratuita”. O cidadão enfrentará uma jornada por comida em mercados estatais que aceitam o cartão alimentação e peso cubano.
28 – O salário mínimo de um cubano é algo como 30 dólares/mês, já um médico ou um engenheiro ganha algo como 40 a 50 dólares/mês, o que é obviamente insuficiente para viver. Este salário é pago em peso cubano e, com peso cubano, ele não tem acesso a comida decente.
29 – O cartão alimentação oferecido “gratuitamente” para cada cubano pelo governo permite:
5 ovos /mês
1/2 kg frango /mês
250 ml óleo /mês
1/2 kg açúcar /mês
2 kg arroz /mês
1/2 kg café /mês
Nos mercados estatais que aceitam peso cubano, é só isso que terá para comer.
30 – Além disso, ele terá direito a:
– 1 pasta de dente para 3 pessoas para 2 meses
– 1 sabonete por mês para duas pessoas
Mesmo que ele queira comprar mais com seu peso cubano, raramente encontrará disponível, e se encontrar, haverá um limite por pessoa para comprar.
31 – Crianças têm direito a 2kg de leite em pó por mês, mas só até os 7 anos, depois disso, deixam de receber leite e passam a receber café. Padarias do governo liberam apenas 2 pães por pessoa por dia. O controle é feito pelo cartão de alimentação que é por família.
32 – Um dos itens oferecidos no mercado estatal que aceita peso cubano é o chícharo, um tipo de tremoço de fácil cultivo e que se adapta em qualquer terreno. Utilizado na maior parte do mundo para alimentação de gado, em Cuba, é uma opção para o péssimo arroz estatal.
33 – Frango, se achar, estará mal refrigerado e precisa ser consumido em no máximo 3 dias. Um cubano me contou que é comum pegar uma carne na bodega (açougue) do governo e ela vir com a parte de baixo verde de podre. Isso, se achar, claro.
34 – Encontrar comida é uma jornada. Os cubanos passam boa parte do seu dia em filas, buscando comida entre uma loja ou outra estatal. Já as filas, são uma estratégia do governo para manter o povo ocupado, preocupado com sua sobrevivência sem tempo para organizar rebeliões.
35 – Durante a pandemia, mesmo os mercados estatais que aceitam cartão de crédito estavam desabastecidos. Apenas nos grandes mercados das áreas nobres havia comida. O cubano que tinha um cartão de crédito andava horas pela madrugada para chegar nestes mercados.
36 – Mesmo num supermercado da elite, no melhor bairro de Havana, você encontra pouca variedade e apenas produtos essenciais. Os poucos produtos de “luxo”, como azeitona e queijo, são dedicados às pessoas ricas como funcionários de empresas estrangeiras e embaixadores.
37- Não faz sentido para um cubano comum gastar num pote de azeitonas o mesmo valor que ele poderia gastar comprando arroz e feijão por exemplo. Mesmo assim, mesmo no melhor mercado de Havana, o desabastecimento é nítido e a busca por comida gera filas imensas.
38 – Até para turistas é complicado encontrar comida fora da região de Havana Vieja, onde estão os restaurantes estatais para turistas. Mesmo no aeroporto, na área internacional, havia 4 cafés, dois fechados e os outros dois tinham apenas pão com queijo ou presunto. Só.
39 – Aliás, um cuidado que todo turista deve ter é de não comer comida de rua, principalmente frituras. O cubano reutiliza o óleo o máximo que pode e higiene é luxo. Eu evitei, mas provei um “chocolate” de rua que me causou uma infecção severa. Passei bem mal no voo de volta.
40 – Se você tiver muito dinheiro, poderá comprar comida em alguns sites onde se acha de tudo e eles entregam na porta da sua casa. São caríssimos, voltados apenas para a elite da elite cubana. Não são estatais, são particulares, mas tem permissão do governo para operar.
Moradores de rua em Cuba
41 – Pessoas te abordam o tempo todo na rua pedindo esmola. Não é incomum ver pessoas revirando lixo para encontrar algo para comer ou vender. O cubano comum passa fome pois seu próprio governo, que prometeu cuidar dos seus, controla a comida para sustentar uma elite política.
42 – O guia me falou que não existem moradores de rua em Cuba por falta de moradia. As pessoas que moram nas ruas têm problemas mentais e fugiram de hospitais psiquiátricos ou não querem viver em albergues do governo. Mas isto não significa que não existam pedintes.
43 – Por mais que o comunisteen entusiasta de Cuba diga que não existe gente passando fome, crianças pelas ruas pedindo esmola ou pedintes pelas ruas, basta uma caminhada pelo centro de Havana para confirmar que isso não passa de propaganda.
Moradia em Cuba
44 – Mas quando falamos de moradia, não se iluda. Em uma casa cubana vivem de 3 a 5 famílias numa situação extremamente precária. Muitas são casas nos chamados “solares”, como este do vídeo, que numa escala de 1 a 10 de “qualidade de moradia” está num nível 7, “muito boa”.
45 – Alguns apartamentos têm o seu andar dividido com as chamadas “barbacoas”, uma espécie de mezanino para abrigar mais pessoas no mesmo apartamento. O resultado é um teto muito baixo e um ambiente extremamente quente e abafado. No verão, é comum dormirem do lado de fora.
46 – A razão para tantas pessoas morarem na mesma casa é, naturalmente, a falta de moradia digna para todos, a concentração na cidade (onde podem conseguir uma renda extra) e também uma questão de subsistência, somando renda familiar para conseguir o mínimo para comer e sobreviver.
47 – As casas do centro (maioria) são muito precárias, as do subúrbio um pouco melhores. Todas dispõem de eletricidade e água encanada. Porém, a água tratada e adequada para consumo só para as residências de bairros nobres, como o bairro de Miramar, onde vive a elite de Havana.
48 – Depois da revolução, cubanos da elite fugiram de Cuba abandonando suas “mansões”, os que ficaram, tiveram suas casas desapropriadas pelo estado. As maiores casas viraram escolas, museus ou embaixadas, mas muitas ficaram para os líderes do novo governo.
49 – Andando pelas ruas de Miramar vi casas comuns que seriam facilmente encontradas em bairros de classe média baixa no Brasil mas que lá são consideradas “mansões”. Algumas bonitas, em bom estado, mas nem todas.
50 – Vivem nestas “mansões”, cubanos com parentes ou cônjuges no exterior e que conseguem patrocinar uma vida melhor para eles ali, também funcionários de empresas que atuam em Cuba, embaixadores e, claro, altos funcionários do governo.
51 – Na mesma região fica a casa de Fidel. É proibido tirar fotos e fazer vídeos. Ela é auto suficiente, tem sua própria horta, produção de queijo, escola, clínica, enfim, tudo o que precisam para viver sem precisar sair dali. Hoje, apenas a família de Fidel mora lá.
52 – As casas são próprias e eles podem comprar e vender, ou seja, não são do estado, embora existam situações em que o estado pode confiscá-las mas que explicarei mais a frente. Um apartamento simples, como destas fotos, custa entre 5 e 10 mil dólares.
53 – Não nos esqueçamos que é simplesmente impossível um cubano juntar este valor para comprar uma casa com o salário de 30 a 40 dólares mensais que mal dá para se alimentar. Por esta razão, além das outras razões já apresentadas, várias famílias dividem o mesmo apartamento.
54 – Conheci um pouco do interior de Cuba também. Percebi que há poucas áreas produtivas e poucos maquinários agrícolas, e quando tem, são bem velhos. A carroça é o principal meio de transporte de produção. Fora isso, não difere muito do que vemos no interior do Brasil mais humilde.
Trabalho em Cuba
55 – Eventualmente o governo oferece terras para quem quiser trabalhar com produção agrícola, porém, 70% da produção deverá ir para o estado e a família proprietária e que produziu tudo poderá ficar com 30% para seu consumo próprio. É permitido vender o que sobrar.
56 – Num mercadinho que vende tanto produtos estatais como de produção particular, é nítida a diferença de abastecimento. Isso ocorre por muitas razões, mas a principal delas é de que o cubano aprendeu que precisa driblar o estado para poder sobreviver.
57 – Eu ouvi a mesma frase de três cubanos diferentes, e nem sabia que ela existia fora do Brasil: “ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão”. Esta frase foi dita no contexto de que, o que o cubano puder roubar do estado, ele vai roubar.
58 – Roubar do estado, de lojas do estado, de mercados estatais etc, é uma prática comum de sobrevivência, uma forma de pegar de volta o que lhe foi roubado pelo governo. No entanto, todos eles gostavam de enfatizar que o cubano é honesto, que não rouba turista ou particular.
59 – Eles preferem trabalhar num açougue, onde podem roubar carne, ou num hotel (todos estatais) onde podem roubar uma toalha, talheres etc e vender. Um bom emprego é aquele que te possibilita ter ganhos “extras”, por isso, ninguém quer ser professor: não tem nada prá vender.
60 – Naturalmente, os melhores empregos ficam com as pessoas mais influentes (lê-se políticos) que indicam familiares e amigos e cobram uma “rachadinha” do que eles conseguem roubar, vender e desviar. A corrupção é generalizada e está presente em todos os níveis hierárquicos.
61 – Com empregos estatais que pagam muito mal e poucas oportunidades em empregos que proporcionem uma renda extra, seja roubando o estado, ou como autônomo, o cubano acaba ocioso, passando o dia nas praças, sentado nas calçadas conversando ou em filas tentando comida.
62 – Aliás, outro motivo para tantas filas nestes mercados estatais que só aceitam pagamento em cartão de crédito é que apenas um cliente pode entrar por vez para que possa ser vigiado evitando que pegue algum produto e leve sem pagar. Novamente, para sua subsistência.
63 – A aversão ao estado é constante. Quando eu pedia referência na rua de algum restaurante, era frequente me dizerem: “não vai nestes restaurantes bonitos aí não porque são do governo e o dinheiro fica tudo para eles, dê preferência ao restaurantes de família cubana”.
64 – Tudo o que estou relatando aqui foi dito por cubanos com quem conversei. Naturalmente, foram poucas as conversas que consegui gravar, até porque as conversas eram informais e sempre descontraídas. Todos sempre foram muito solícitos e adoravam conversar, menos os taxistas.
Transporte em Cuba
65 – Poucos foram os taxistas que se sentiram à vontade para conversar e falar sobre política e afins, o que a gente até estranha porque aqui é exatamente o contrário. Mas isso tem uma explicação. Todos os táxis que podem receber turistas são do estado.
66 – O motorista é autônomo, mas o táxi é do estado. Ele precisa pagar um aluguel mensalmente e também pagar pesados impostos pelos serviços executados. Os valores das corridas são tabelados pelo estado, baseado em zonas da cidade. Todos seguem direitinho esta regra, mas…
67 – Não existe muito controle sobre as viagens, logo, é uma boa forma de conseguir um dinheiro extra informando menos corridas realizadas do que a realidade. Conseguir uma licença de táxi não é fácil, por isso não querem perdê-la por terem “falado demais” com um turista.
68 – Existem 2 tipos de táxis: os táxis alugados do governo (amarelos e côco), que podem receber turistas, e os táxis clandestinos de cubanos, que são carros próprios, não podem receber turistas e funcionam como um Uber mas com rotas pré definidas. Claro que andei nestes também.
69 – Tanto o taxista que usa carro do estado como o taxista clandestino, não tem nenhum direito trabalhista, nenhum apoio do governo, nenhum seguro, nem férias, nem nenhum benefício. Aliás, todos os cubanos com quem conversei relataram a mesma coisa: não tem direitos.
70 – Além dos táxis, tem também os carros antigos de passeio, que são carros em melhor estado de conservação. Todos eles devem ter uma licença do governo e também pagam impostos por cada turista que levam nestes passeios. Tanto os preços como as rotas também são tabeladas e fixas.
71 – Estes carros antigos são bonitos nas fotos, mas presencialmente vemos com foram remendados ao longo de 70 anos. Os originais motores v8 foram substituídos por motores de carros mais novos. É frequente vermos estes carros parados quebrados pelas estradas.
72 – Dar manutenção nestes carros é uma arte e muito trabalhoso, por isso eles optam por atualizar com peças mecânicas de carros mais atuais. Outra razão é deixá-los mais econômicos, já que os motores antigos bebem demais e a gasolina lá é mais cara que no Brasil.
73 – Mesmo assim, ter um carro destes é um ótimo investimento e custa muito mais do que um apartamento simples. Um chevrolet 1953 custa algo como 15 mil dólares. Já um conversível pode custar uns 20 mil. Carros mais valiosos como Cadillac custam muito mais.
74 – Carros da década de 50 são o cartão postal de Cuba pois, após o embargo, se proibiu a importação de carros dos EUA, principal fornecedor. Embora longe da realidade financeira, um cubano pode comprar um carro de outro país como França, Rússia, China e Itália, por exemplo.
75 – Um dos principais problemas em se adquirir bens no exterior, por mais que seja permitido, é comprovar a origem do dinheiro. Como o estado sabe, e é o desejo dele, que a maioria da população seja miserável, comprar algo incompatível com sua renda pode chamar muita atenção.
76 – Ou você tem costas quentes, ou você terá sérios problemas com o fisco e com cobranças de propinas para que seu bem seja liberado e legalizado para ser utilizado no país. Desta maneira, a aquisição de automóveis acaba ficando apenas para uma elite politicamente influente.
77 – Por mais que o governo cubano tenha permitido alguma atividade privada no país, tudo ainda é muito controlado e depende de autorização do estado para funcionar. A burocracia é uma forma de ocupar, dar status e alimentar uma classe política que vive de corrupção.
78 – Na praia, um rapaz bem simpático se ofereceu para buscar nas redondezas o que eu quisesse beber ou comer e me trazer. Numa dessas, ele foi abordado pela polícia, que anotou algum número (imagino que a identidade) e o repreendeu. Tentar sobreviver pode ser perigoso em Cuba.
Saúde em Cuba
79 – O governo cubano dedica mais energia e esforços mantendo as pessoas sob seu controle do que dando condições mínimas de subsistência. Já vimos como a economia, alimentação, moradia e emprego são precários e degradantes em Cuba, e claro que a saúde não seria diferente.
80 – Todos os cubanos com quem conversei e perguntei sobre saúde foram unânimes: é pura propaganda! O sistema de saúde está totalmente falido. As farmácias estão vazias, simplesmente não tem remédio para nada. Se agravou durante a pandemia e simplesmente se manteve desde então.
81 – As pessoas nem procuram o hospital se precisarem pois sabem que não haverá o mínimo para serem atendidas. Se precisarem de uma seringa, devem se virar para comprar no mercado negro porque não tem disponível. Além disso, os atendimentos são realizados mediante suborno.
82 – E não estamos falando de grandes quantias em dinheiro. Pode ser um refrigerante, um doce, eles aceitam tudo. Médicos em Cuba também são miseráveis e também passam fome. Os melhores médicos são ‘produtos’ de exportação e os piores ficam para atender a população.
83 – Para quem não se lembra, o programa Mais Médicos aqui no Brasil que empregava médicos cubanos, pagava 80% do salário deles para o governo de Cuba e apenas 20% para o médico. Eles eram propriedade (escravos) do governo cubano. Muitos não voltaram para Cuba e ficaram aqui.
Educação em Cuba
84 – Em Cuba é proibido ter atividades autônomas e privadas na área da saúde, ou seja, um médico ou um dentista não pode exercer sua profissão de forma privada e cobrar pela consulta. Se for pego atendendo alguém de forma particular, perderá sua licença.
85 – Isso porque ele recebeu educação gratuita, mas que não é tão gratuita assim. Se você se formou médico, dentista, professor ou qualquer profissão proibida de ser exercida no privado, você será para sempre escravo do governo, trabalhando apenas para ele ou para onde ele te exportar.
86 – Além disso, independente do curso escolhido, quando formado, deverá prestar 2 à 3 anos de “trabalho social obrigatório”. O salário, que já é miserável, será cortado pela metade e o local de trabalho será escolhido pelo governo. Na prática, o curso está sendo pago com trabalho.
87 – Caso se negue a prestar este trabalho obrigatório, o diploma será retido e impedido de exercer sua profissão. Até o ensino médio a educação é gratuita e obrigatória, porém, a educação superior é opcional. A educação é boa por conta da dedicação dos professores.
88 – Assim como na área de saúde, é proibido ter escolas particulares ou exercer a profissão de forma privada. A única escola particular que existe fica na região das embaixadas e pode receber apenas filhos de diplomatas.
Vida em Cuba
89 – Outra atividade obrigatória pelo estado é o serviço militar para todos os cubanos homens, que terá uma duração de 2 anos. Havendo vaga, eles podem optar por continuar a carreira militar se quiserem.
90 – Prostitutas oferecem seus serviços nas ruas livremente, por dinheiro ou “qualquer ajuda”. Cubanos que vivem de turismo, oferecem nas ruas passeios de charrete, charutos, serviços de guia, prostitutas e qualquer serviço que possam intermediar por uma comissão.
91 – A maioria dos cubanos é preto ou pardo, e a conexão com suas origens africanas é muito forte. Embora oficialmente o cristianismo seja a principal religião em Cuba, as religiões de matrizes africanas predominam por meio do sincretismo.
92 – Segundo o guia, algumas drogas são encontradas em Cuba, como maconha e crack, já cocaína é muito difícil por ser muito cara. O cubano fuma muito charuto e cigarro, aliás, o fumo é algo bem presente na vida do cubano, disponível inclusive nos mercadinhos estatais.
93 – Os serviços públicos, assim como todo o resto oferecido pelo estado, são extremamente precários. Apagões são frequentes e o custo da eletricidade faz com que todos os ambientes sejam extremamente escuros. Casas, mercadinhos do governo, açougues, tudo parece uma caverna.
94 – A estatal de telefonia ETCSA (Empresa de Telecomunicações de Cuba S.A.), é informalmente conhecida por Estamos Tratando de Estabelecer Comunicação Sem Pressa. Usar a internet é um desafio, embora tenha até uma boa cobertura de sinal, é muito lenta e trava constantemente.
95 – O transporte público é basicamente ônibus e táxi. Os ônibus que vi estavam até em bom estado, mas possuem uma frota reduzidíssima, poucas linhas e frequentemente estão lotados, o que faz o cubano optar por ir a pé ou utilizar o táxi clandestino, que tem uma peculiaridade.
96 – Os táxis particulares operam com destinos definidos e vão pegando vários passageiros no percurso. É possível optar por uma corrida privada, mas pelo custo, todos optam pelo modelo compartilhado. Para chamar um táxi você tem duas alternativas…
97 – Dar sinal na rua para os carros que estão passando, e com o tempo você aprende a diferenciá-los dos demais. Para dar sinal, basta estender a mão mostrando com os dedos a quantidade de passageiros que irá embarcar, tendo assentos disponíveis, ele irá parar, ou…
98 – Você pode chamar um táxi por Whatsapp quase como chamamos um Uber. Existem comunidades de táxis que você pode fazer parte, informar sua localização, seu destino e a quantidade de passageiros. O taxista mais próximo de você verá a mensagem e passará para te pegar.
LGBTQIA+ em Cuba
99 – Vi muitos casais homossexuais em Cuba e fiquei curioso para entender como é a vida de um LGBT por lá. Inclusive, tem um importante Hotel dedicado à comunidade LGBT, o Hotel do Telégrafo. Mas conversando com cubanos, entendi que não foi sempre assim.
100 – O casamento gay foi permitido em Cuba há apenas 4 meses e a tolerância aos LGBTs pelo governo aconteceu por oportunismo. Para os cubanos, nunca houve dúvidas de que o governo repreendia, proibia e perseguia homossexuais. Mas tudo começou a mudar em 1993.
101 – Neste ano, um filme cubano-mexicano chamado “Morango e Chocolate” ganhou destaque internacional. O filme critica o tratamento que o governo de Fidel dava aos homossexuais.
A comunidade LGBT cubana viu na repercussão deste filme uma oportunidade para exigir mudanças.
102 – Fidel resolveu usar esta situação desconfortável para promover uma propaganda internacional de tolerância sexual e religiosa “desmentindo” o filme. O objetivo era desfazer esta imagem ruim e de quebra atrair o público progressista para o turismo na sua ilha socialista.
103 – No entanto os cubanos sabiam que o governo sempre foi homofóbico. Na década de 1960, músicas dos Beatles e dos Rolling Stones eram proibidas pois, segundo o governo, incitavam nas pessoas o desejo de serem gays. A repressão aos gays era via multas, prisões e até a morte.
104 – Segundo o historiador cubano que conversei, o “Discurso do Homem Novo” de Che Guevara, desencadeou uma série de medidas de repressão religiosa e principalmente contra homossexuais. Uma polícia “especializada” foi dedicada para avaliar “o quão homem esta pessoa era”.
105 – Se não passasse no teste, ou seja, tivesse características homossexuais, a pessoa seria encaminhada para uma UMAP (Unidade Militar de Ajuda Produtiva), eram campos de concentração de trabalho forçado e reeducação socialista para que lá ela “se tornasse um homem de verdade”.
Embargo em Cuba
106 – O estado investiu na propaganda LGBT e percebeu que deu certo, mas todos sabem exatamente o que a elite política pensa sobre esta comunidade. Outra propaganda utilizada exaustivamente pelo estado é a de que o embargo é o culpado por todas as mazelas que Cuba sofre.
107 – O historiador cubano com quem conversei me explicou como funciona o embargo e me levou a um complexo de edifícios de escritórios onde existem empresas do mundo todo ali representadas. Este centro comercial fica em Miramar, o bairro nobre de Havana.
108 – Lá ele me contou que sim, o embargo é uma realidade que dificulta a vida do cubano pois torna tudo muito mais caro. Para comprar um produto americano, o cubano precisa recorrer a outro país para intermediar a compra, e comprar de outros países pode ser caro pela distância.
109 – Como Cuba só produz isso, alimentos, roupas, produtos de higiene, medicamentos etc, precisam ser importados. O embargo não atinge alguns itens de alimentação e medicamentos, ou seja, Cuba pode comprar alguns itens dos EUA, o restante, deve recorrer a outros países.
110 – A verdade é que Cuba não é competitiva e não produz nada além de café, charuto e rum. As cooperativas de produção de charuto são rudimentares com produção totalmente artesanal. Já a produção do rum é mais industrializada pois é gerida por empresas estrangeiras.
111 – Estas empresas de outros países operam normalmente, possuem escritórios em Cuba e seus funcionários moram em bairros nobres de Havana. Seus carros possuem placas especiais para identificar funcionários de empresas estrangeiras que começam com a letra “K”.
112 – A verdade é que mesmo o embargo dificultando o comércio com os EUA, o grande culpado pela péssima gestão econômica do país é o próprio governo, e isso não vai mudar, pois a elite política não quer perder o principal argumento que mantém o povo miserável e ocupado na subsistência.
Política em Cuba
113 – Todo o sistema político cubano foi desenhado para manter uma classe pobre, dependente do estado e ocupada na sobrevivência, sustentando uma elite política que vive muito bem em Cuba ou mora em Miami às custas do cubano escravizado pelo estado.
114 – É uma ditadura com sistema eleitoral fake que funciona assim: o cidadão cubano vota apenas para o equivalente a vereador, sim, só. Os vereadores elegem os deputados estaduais (províncias) que elegem os deputados federais e os deputados federais elegem o presidente.
115 – Quando ele me explicou sobre as eleições eu perguntei se o cubano acha que o sistema eleitoral deles é democrático, e ele me respondeu que não, que não acham que seja democrático, e que também acreditam que não tem como mudar isso.
116 – Perguntei também se o cubano acha que Cuba é uma democracia ou uma Ditadura, e ele, visivelmente desconfortável, me disse que a maioria acredita que seja uma ditadura, principalmente os jovens. Eles têm muita clareza de que o país não é democrático e não apoiam o governo.
117 – Claro que você encontrará, principalmente entre os mais idosos, nostálgicos do auge do socialismo de Fidel, apoio ao governo, ou entre jovens militantes, por ideologia ou por interesses. No entanto, segundo ele, a esmagadora maioria do povo não apoia o regime e o governo.
Socialismo em Cuba
118 – Este historiador confirmou o que eu já sabia: Fidel não era comunista e só aderiu ao socialismo em 1961 quando precisou se aliar a URSS, uma vez que os EUA se negaram a negociar com guerrilheiros que tomaram as propriedades de americanos e todo o investimento feito na ilha.
119 – Claro que a URSS, no contexto da Guerra Fria, se aproximou de Cuba pois tinha interesse estratégico militar e de influência na região. O período em que Cuba foi apadrinhada pela URSS foi muito bom. Mas mesmo a ajuda oferecida pela URSS era má gerida pelo governo cubano.
120 – Ele me contou de uma vez em que a URSS enviou um navio petroleiro para ajudar no infraestrutura do país, o que poderia ajudar a desenvolver a indústria e a produção, melhorando a vida do cubano. Mas Fidel preferiu vender o petróleo e financiar guerrilhas na África.
121 – Fidel acreditava que a fonte de recursos da URSS não iria secar nunca e que poderia gastar mal, desviar e “investir” na sua imagem internacional enquanto o povo continuava vivendo de forma rudimentar. Afinal, desenvolver o país resultaria na perda de ajuda internacional.
122 – O povo teve uma melhora de vida patrocinada pela URSS, o que aumentou a fé na revolução. Com a queda da URSS, Cuba viveu uma terrível crise e desde então a fé na revolução vem sendo abalada. Atualmente, com mais acesso à informação, a revolução não convence mais ninguém.
123 – É bem claro para o cubano médio hoje que o socialismo, que proporcionou por um tempo a falsa sensação de sucesso, não funciona. A utopia do comunismo que muitos aqui no Brasil ainda acreditam, não mais convence o cubano.
124 – Tentando comprar um broche de Fidel para meu boné comunista, notei que tinha tudo sobre Che, mas nada de Fidel. Foi quando uma cubana me contou que não é permitido usar a imagem de Fidel fins comerciais. Porém, mesmo nas ruas, encontrei muito mais imagens de Che Guevara.
125 – Um outro cubano com quem conversei na rua me disse sua opinião sobre o Lula e outros políticos no mundo, incluindo os do governo cubano: são todos ladrões. Todos roubam do povo para sustentar seu poder, privilégios, regalias e status social.
126 – A pobreza é uma forma de controle da população. Se a população tiver condições de se desenvolver, formará uma burguesia que poderá se unir contra o governo, por isso que em Cuba a única burguesia permitida é aquela formada por políticos que controlam o estado.
127 – Mesmo não apoiando o governo, muitos são obrigados a participar de manifestações pró-governo. Convocados pelos seus chefes no trabalho, os colaboradores recebem bandeiras e cartazes que deverão usar nestas manifestações. Se negar a participar pode gerar graves sanções
128 – Em determinado momento perguntei para o historiador cubano que me contou boa parte do que relatei aqui se ele não tinha medo de falar estas coisas. Ele me falou que ele só apresenta os fatos, que são verdadeiros e eu que tire minhas conclusões. Não dar sua opinião é uma estratégia.
129 – Um outro cubano me falou que o medo de dar opiniões desfavoráveis ao governo é comum entre os cubanos. Segundo ele, se denunciar um crime comum, a polícia leva horas pra chegar, mas se denunciar um crime político, a polícia chega em 10 minutos. Prioridades.
Fugir de Cuba
130 – A fome, o controle das liberdades, a falta de oportunidades e a repressão política fazem o cubano só pensar em uma coisa: fugir. Não existe esperança de que o governo cairá e que as coisas irão mudar. Todos falam o tempo todo de como sair da ilha, como fugir do país.
131 – Um cubano me falou que eles preferem atravessar o deserto pelo México, sem água e com muitas cobras, ou atravessar o mar até Miami, recheado de tubarões, do que enfrentar o governo. O mais curioso disso tudo é que, teoricamente, o cubano pode sair do país.
132 – Se de fato fosse permitido, não veríamos tantos cubanos arriscando suas vidas para fugir do país. Isso ocorre pela clássica diferença entre teoria e prática. Na prática, conseguir um passaporte de um visto para sair do país é extremamente burocrático e caro.
133 – Se você tiver condições de pagar subornos, certamente será mais fácil, mas se não, terá de atender aos requisitos que são impeditivos. Um cubano me contou como tem sido sua jornada de mais de 11 anos para sair de lá.
134 – Ele vem juntando dinheiro com diversas atividades extra-oficiais para comprar um imóvel (uma das exigências é ter um imóvel em seu nome) e ter em reserva 5 mil dólares (outra exigência). Com isso, poderá conseguir um visto para algum país da Europa, ou algum da África.
135 – Se ele conseguir finalmente sair da ilha e não voltar em 2 anos, perderá sua casa, que será desapropriada pelo governo. Pelas suas contas, ele acredita que em mais uns 4 ou 5 anos terá atingido estes objetivos e com isso poderá sair da ilha legalmente.
136 – A desconexão do discurso político com a realidade é escancarada nestas imagens: de um lado, um prédio com os dizeres “Pátria ou Morte” e do outro lado da rua, o Consulado da Espanha repleto de cubanos tentando uma terceira alternativa: fuga.
137 – Cada pessoa comenta sua estratégia de como fugir de lá. Um outro rapaz me contou que espera que sua filha, hoje com 7 anos, quando crescer arrume um casamento com um estrangeiro para poder sair de lá e quem sabe ele também.
138 – Casamentos falsos são bem comuns, seja para fugir ou para conseguir investimento para criar um negócio privado onde sua família poderá trabalhar e tem uma condição melhor de vida. Se submeter ao tráfico humano sexual também é um recurso muito comum para fugir de lá.
139 – Outra prática comum é a conversão ao islã, o que facilitaria um visto para a Arábia Saudita. Houve um boom de novos muçulmanos cubanos a partir de 2005 quando um líder do islã visitou o país e falou que todo muçulmano deve visitar Meca ao menos uma vez na vida.
140 – Eles tinham uma boa noção do mundo pelos relatos de amigos e familiares fugitivos, mesmo assim, a forte propaganda estatal fazia com que eles acreditassem que, mesmo enfrentando dificuldades, eles ainda tinham saúde e educação gratuita, e que isso só existia em Cuba.
141 – O governo ainda controla a TV, Rádio e Jornais, só que agora os cubanos conseguem confrontar a propaganda estatal com sua própria pesquisa na internet, e eles têm descoberto o quanto o governo mente, motivo pelo qual noticiário é chamado de “menticiário” por eles.
Futuro de Cuba
142 – Quando Fidel morreu e seu irmão Raul assumiu a presidência, houve grande resistência do povo que não concordou com uma sucessão familiar. Raul não tinha a mesma simpatia que o povo tinha com Fidel e precisou fazer algumas concessões, entre elas, liberar internet móvel.
143 – As manifestações de 2021 fizeram o governo derrubar a internet por 72h, dificultando a organização dos protestos e a escalada para uma eventual derrubada do governo. Liberada para melhorar a popularidade do governo, a internet parece ser um grande problema para a ditadura.
144 – É nítido o desalento sobre o futuro de Cuba entre os cubanos. Eles não acreditam que a situação mudará pois tudo foi muito bem desenhado e amarrado entre elite, políticos e militares para minar qualquer tentativa do cidadão comum se rebelar contra o estado.
145 – O destino de um cubano está selado no seu nascimento. Ele sabe que precisará trabalhar 4 meses recebendo seu salário de 30 dólares por mês para conseguir juntar 120 dólares e com isso pagar um único charuto dos vários que Fidel fumava diariamente.
146 – Ou quem sabe, com o valor deste mesmo charuto, comprar 780 quilos de arroz no mercado estatal (se tivesse disponível e se fosse permitido comprar nesta quantidade), para se alimentar e alimentar sua família.
147 – Quando eu agradeci novamente o cubano que me recebeu em sua casa ele me respondeu com a seguinte mensagem: “Não Leonardo, eu que agradeço por você ter me dado a oportunidade de seguir adiante… de dar comida à minha família, que é o mais importante. Muito obrigado!”
148 – A luta do cubano é para comer e ter alguma dignidade, e me revolta ver pessoas aqui no Brasil defendendo um regime que escraviza seu próprio, que rouba o resultado do seu trabalho, que controla suas liberdade e que repreende, prende e assassina quem tenta se opor a ele.
149 – Eu tive o privilégio de ir lá, passar alguns dias com eles, conversar, entender a dor deles e aprender sobre Cuba diretamente com eles. Fica a lembrança de um povo querido, inteligente e atencioso. Um povo humilde que literalmente, padece no paraíso.
150 – Meu desejo não é que o comunisteen daqui que defende o regime cubano vá para Cuba, mas sim, que o povo cubano tenha pelo menos uma fração da vida boa que o comunisteen tem aqui.
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